Sou Amanda Figueiredo. Nasci na terra do coco babaçu, interior do Maranhão, região onde nenhuma outra planta prevalece tanto quanto o babaçuzeiro, a mãe de leite, que influencia diretamente na economia de um pedacinho de terra quente e cheio de gente feliz, que cata coco, quebra e vende.
Não vim falar do Maranhão, apesar de tê-lo ocupando a maior parte do meu coração e da minha vida. Aos 17 anos, me mudei para o sudeste do Pará, sendo mais específica, Marabá, cidade localizada no arco do desmatamento da Amazônia. Esse território, que me acolheu de braços abertos, é conhecido por receber pessoas de todo o país, tendo uma população extremamente diversa e culturalmente múltipla.
Não sei se necessariamente por ter tanta gente de tantos lugares, também é a região com todos os conflitos de território descritos, há disputa por minério, por terra, por água (com barragens, hidrovias e outras ameaças aos nossos rios). É uma região extremamente afetada por problemas sociais, sendo considerada muito violenta e perigosa para grupos marginalizados.
Marabá, cujo nome carrega o significado da violência sexual, sendo “mistura de indígena com branco”, é uma terra de preconceitos.
Marabá, terra rica do ponto de vista de renda per capita, é também rica em desigualdade. É rica em desmatamento, em queimadas, em violência e em pobreza. É uma cidade banhada por dois rios, o Tocantins e o Itacaiúnas, com praias que se enchem de pessoas e de lixo durante o período de seca. Período esse em que a cidade também se enche de fumaça. É uma cidade que sofre com a falta de estrutura para o período chuvoso, sendo afetada por alagamentos, consequência da destruição das matas ciliares de seus rios e cheia de lama e sujeira carreada pelas ruas que não possuem tratamento de esgoto.
Marabá também é uma cidade de resistência. Por tantos conflitos, o povo se enche de vontade de viver e, alguns, até conseguem indignação suficiente para lutar. E é assim que eu consigo me descrever, mais uma das lutadoras desse território. Sofremos diretamente com a perda da floresta dessa região, com grandes empresas saqueando nossos recursos naturais, com grandes latifundiários envenenando nossas terras. Sofremos! E é o que tem movido a luta. Eu vivo em um território cheio de conflitos, eu vivo em um território onde a luta e a resistência são exigidas. Marabá, essa terra cheia de problemas, também é uma terra cheia de esperanças de um futuro melhor.
Como qualquer outro lugar do Brasil, é terra de luto e de luta.